Devemos-lhe uma homenagem.
É justo que o homenageemos, deixando um registo perene do modo como viveu.
Por isso pedimos que partilhassem connosco o vosso caso. A história do encontro de cada um de vós com o João. O modo como ele vos marcou. Que nos enviassem fotos ou outros registos que tenham partilhado com ele, mesmo sob a forma oral.
Aqui está o resultado.
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O João era o chefe de redação no África Jornal, onde comecei a ser jornalista, julgo que em 1985. Habituou-me mal para o resto da vida, porque era o melhor que alguém podia ter como guia e referência profissional e pessoal. Contei sempre com a sua inteligência, calma, sentido de humor e muito com aquele sorriso desarmante que nos iluminava. Voltei a trabalhar com o João, anos mais tarde, na BBC, em Londres. Era ali o Senhor da rádio. Aquela sua voz sussurrante era ainda mais cativante. Mais uma vez tinha aquela estrela a ensinar-me. Mais uma vez, não podia imaginar melhor. Tenho uma grande Saudade do João. Está para sempre no meu coração.
Valentina Marcelino
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É uma imensa tristeza, esta ausência da nossa companhia, do João VanDunem. Enquanto foi vivo tive muitas histórias vividas com ele. Enquanto, foi vivo, sempre que eu ia a Luanda, ficava em casa dele. Na nossa juventude, tivemos muitas reuniões clandestinas, eu e o seu mano Zé, que éramos os mais velhos, e o João e o meu irmão Jorge, que eram os mais novos. Tivemos muitos projectos juntos. Fizemos a ocupação da casa de Angola, em Lisboa, fizemos Rádio, escrevemos para a Radio e para Jornais. O João era uma pessoa extraordinária. Faz-me muita falta o João, agora que está a chegar a minha hora de ir ao seu encontro...
João Pessoa
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João Van Dunem foi um dos homens mais doces e serenos que cruzei na vida, com a força vital, a elegância e a clarividência que só os verdadeiros líderes têm. Abriu-me as portas da sua casa em Londres, nos anos 1990, como se eu fosse da família. Abriu-me ao mesmo tempo as portas da sua biblioteca e da sua sabedoria. Ouviu-me e falou comigo em igualdade, liberdade e confiança plenas, transmitindo-me valores e experiência com o mesmo cuidado generoso de quem alimenta uma criança faminta. É graças a seres humanos como João Van Dunem e Barack Obama que ainda conservo alguma esperança na Humanidade. Sou grata ao sobrinho dele, o meu querido amigo Che, outro ser humano que tenho o privilégio de ter cruzado na vida, outro homem recto e doce, por este encontro tão marcante com o "tio da BBC".
Patrícia Cadeiras
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Do tio João, retenho o seu registo dócil e de leveza. Lembro-me também que, era uma pessoa que ouvia sem interromper. Ficou muito aprendizado que levaria muita escrita para descrever sobre o querido e eternamente amado tio João. Toda honra e toda glória.
Saidy Pitta Gros Vieira Dias
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Conheci o Dr João Vandunem em 2009 na Media Nova, na altura eu era assistente de RH, uma pessoa amável, afável, muitíssimo educado e de trato fácil.Que tinha amor ao proximo, tinha muito conhecimento e foi cedo demais.Só tenho agradecer os ensinamentos, o aprendizado,muita gratidão mesmo por ter conhecido um ser humano extraordinário.
Miquelina King
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Verão excelente em Troia com tio João, tia Mimosa e demais. Excelentes momentos passados com alegria, boa comida é excelente educação (com ralhete incluido :) )
Ivo Alexandre Van-Dunem Raposo de Medeiros
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Em Maio de 2012 comecei a trabalhar no grupo Média Nova, onde tive a oportunidade de conhecer o Dr. João Vandunem, pessoa íntegra, caracter que enchia de orgulho, paz, boa energia, passava segurança e esperança no tom de voz, atenção as pessoas, eu até hoje guardo um despacho que fez para mim em um post it, um simples papel mas um significado inexplicável e também o meu presente de aniversário, uma caixinha de jóias que foi entregue pela Elsa Marques, uma para mim e outra para Gabriela Rita Oliveira, somos as duas de Setembro. Um dia ficou quase 2h a conversar comigo, a admiração que tinha pelo meu pai Peyroteo Sango, reconhecimento pelo meu potencial que nem eu mesma sabia que tinha, foi pouco tempo que convivi com o Dr. João mas muito marcante, infelizmente no início do ano seguinte perdemos o Dr. João deixando um vazio de alguém que faz falta, super inspirador.
Josina Sango
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O Dr. João como insistia em chamá-lo e ele repetia todas as vezes: João, tem que se habituar a tratar-me pelo nome. Tenho dezenas de histórias, caricatas, tristes, engraçadas, mas todas elas de muita cumplicidade. Fizemos uma viagem juntos a trabalho. Começou logo à entrada do hotel, quando o senhor da recepção, embaraçado, chamou todos os empregados para receber o presidente que chegava… após ser abordado e ter explicado que era um hóspede comum, rimo-nos imenso. Ele foi o meu mentor da vida, de como se trata o outro, ensinou-me o verdadeiro significado da palavra empatia. Ajudou-me a relevar as questões do trabalho e acima de tudo a valorizar-me enquanto pessoa e mulher que sou. . O João foi, é e será das pessoas com quem tinha uma ligação profunda, de mtos desabafos, verdades partilhadas, e-mail trocados em forma de poesia e acima de tudo, lealdade. Ele será certamente das primeiras pessoas a querer dar um abraço qdo a vida achar que é o momento.
Sofia Costa
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Não me lembro quando nem onde conheci o João. Mas foi há muito tempo: Mais de 30 anos, seguramente. Mas lembro-me: de como foi divertida a nossa estadia, minha e do Rui, em Londres, na casa dele; De como eram interminavelmente longas as nossas conversas pela noite fora. Em Londres e sempre, depois disso. Angola era um tema predileto, não fossem ele e o Rui dois angolanos convictos, um mais afastado que outro. Eu também já fui, em tempos que já lá vão, mas só de certidão passada e cheiros e memórias profundas. Era a guerra, então. Depois a paz. E muito depois ainda a vida do João em Luanda. Estivemos com ele, por lá, e em casa dele, pois. Lembro-me das saídas em Lisboa, pela noite fora; Ou dos jantares em nossa casa; Das festas animadas em casa da Francisca e do Eduardo; E lembro-me: da tranquilidade do seu sorriso, da sua voz sussurrada, do seu tom compassado, da sua opinião ponderada, das suas risadas, dos seus segredos, das suas fofocas; Mas também de lembro da sua agitação... e dos seus atrasos, como não? Mas não me lembro de o ver zangado, é curioso. Magoado às vezes, eu acho. Era tão fantástico, o João. Acho que nunca conheci ninguém capaz de conhecer e mobilizar tanta gente. E amigo. Muitas saudades amigo!
Luísa Meireles
O que define um homem grande - Filipe Correia de Sá
Quando, num determinado dia, hora cedo, muito cedo, dos anos 80, talvez em 81, a minha saudosa mãe bateu na porta do nosso quarto para me avisar que tinha uma pessoa à minha espera na sala, esse momento marcou tudo o resto que se veio a passar na minha relação com o João Van Dunem.
Saído da minha querida Angola, alguns meses antes - com a minha companheira até hoje, a Paulinha, a que se juntava no meu pequeno núcleo familiar a nossa lha mais velha, a Ritinha-, em busca de cura para uma anomia que me tolhia os rumos, vivia a agonia de um salto irreversível, fazia a travessia pelo deserto puro em que oásis eram os amigos, que raros eram como sempre são os oásis. Nesse dia, nessa hora, o João fez um gesto que para mim definiu para sempre a noção do homem bom e para sempre o fixou como um homem grande, fórmula que os nossos irmãos cabo- verdianos e guineenses utilizam quando querem destacar alguém de grande mérito. Um gesto que o vi repetir na sua essência em formas variadas, pelas nossas vidas fora. Um gesto gerador de amizades e lealdades.
Chegado à sala, encontro o bom do João:
- Veste-te e vem comigo, explico-te pelo caminho.
Enquanto percorríamos o percurso da Cidade Sol, passando pelo Barreiro, atravessando o Tejo até ao então cinema Condes, o João explicou:
- Inscrevi-te numa prova de admissão à Escola Superior de Cinema do Conservatório Nacional de Lisboa...
- Quê? Mas ó João, assim? Sem avisar? Não estou preparado...
- Se te avisasse hesitavas e eu sei que estás preparado...
E com a sua serenidade e humor fez diluir os receios que me roíam a confiança. Enchi o meu magro peito e decidi-me a seguir em frente, era impossível recuar.
Ele também se tinha inscrito.
No então Cinema Condes, entre cento e tal candidatos, fizemos a prova. O filme, do realizador Otto Preminger, chamava-se “Laura”. Magnífico. Ali na penumbra daquela sala, enquanto o raio de luz da máquina de projectar explodia em arte no écran, a arte do gesto do João fazia renascer em mim uma chama que temia estar a extinguir-se. Resumindo,depois dessa sessão e de mais umas provas e entrevistas, ficámos os dois no grupo restrito que foi admitido na Escola de Cinema, que, se a memória não me falha, reabria nesse ano, independente da Escola deTeatro. Nesse grupo figuravam, o Rui Reininho, o Leonel Moura, a Ana Luísa Guimarães, o Edgar Pêra, o Manuel Mozos, o Miguel Guilherme, o nosso Viriato Coelho e a nossa Ana Silva (Ana Zero)- que me desculpe quem não citei... Entre os professores, José Bogalheiro, António Reis, Alberto Seixas Santos, Jorge Silva Melo, Ricardo Pais, Daniel del Negro, outros havia.
Feita a matrícula levou-me o João ao encontro de uma amiga, angolana, a Néné Lacerda, companheira do grande poeta Herberto Helder, senhora que trabalhava nos serviços da Universidade de Lisboa que tratavam das bolsas de estudo. A Néné manifestou-nos a sua satisfação por ter à sua frente jovens angolanos preocu- pados em estudar... Ouvimos elogios, eu principalmente, porque do João já ela conhecia a fibra. Consegui uma bolsa, na época, de três contos, que pagavam de três em três meses...o João não pediu bolsa alguma...
No dia aprazado para o início das aulas, o João foi comigo até à porta do Conservatório. Eu entrei e ele não...
- Então, não vens? - Perguntei.
- Não, não dá, apareceu uma outra coisa que eu tenho que fazer. Não vou poder frequentar, para já.
Não foi preciso muito tempo para me aperceber do que ele tinha feito.
Salvou-me a vida. Ajudou-me a recuperar a dignidade e a vontade de lutar. Nunca mais parei...
Um gesto destes não se paga, nem se apaga, inscreve-se, isso eu sei, na noção mais pura do que é ser amigo ou, melhor, ser solidário.
O que leva um jovem, a saltar da cama de madrugada, a sair da Póvoa de Santo Adrião, a apanhar um barco na estação de Sul e Sueste, a atravessar o Tejo para o Barreiro, a apanhar um autocarro até à urbanização da Cidade Sol, a sacar o amigo da cama, para fazerem o mesmo percurso em sentido contrário, a acompanhar o amigo até à porta do destino que pensou que lhe servia, e entregá-lo, ali, ao futuro, missão cumprida, sem vacilar um minuto, sem pedir nada em troca e sem ninguém lhe ter pedido nada, por sua própria iniciativa, num acto inspirado de compaixão, atenção, amizade e solidariedade? O quê? Deixo a resposta à generosidade de quem ler isto.
Tenho orgulho e honra de ter merecido a confiança deste homem grande, a quem a morte nos levou demasiado cedo. Meu colega, meu chefe, meu amigo, sempre presente. Até sempre, João.
Filipe Correia de Sá
Jornalista
João Van Dunem - Valeu a pena ter sido teu amigo - Reginaldo Silva
Foi fora das nossas fronteiras que, pela primeira vez, “se demos encontro” com o João Van Dunem.
Um encontro que se prolongou por várias décadas e que foi dos mais determinantes para a estruturação da minha própria trajectória profissional, sem ignorar todas as outras incidências positivas mais pessoais/subjectivas deste relacionamento.
Lamentavelmente também foi lá, na mesma cidade, há dez anos, que me despedi dele para sempre, tendo sido até agora a única pessoa que me fez viajar além-fronteiras para tomar parte num funeral.
A doença não quis que aos 60 anos o meu amigo de todas as horas continuasse por mais tempo entre nós, onde ainda tinha tanto para dar quer como pessoa, quer como jornalista, quer como cidadão activo de uma Angola que já é muito nossa, embora nem sempre pareça que assim é, pelos resultados sociais demasiado modestos de uma caminhada que já leva 47 anos de vida e de história e que se chama “dipanda forever”.
Tinham-se passado mais de 26 anos desde aquele primeiro dia em que o vi e nos cumprimentamos algures na capital portuguesa, pois já não tenho na memória o local/rua onde ele trabalhava em Lisboa.
Conheci o João Van Dunem em Lisboa em 86/87 por intermédio do seu primo e meu amigo, o Zeca VD, que me levou a visitá-lo na redacção do “África Jornal” onde ele trabalhava na época dirigindo um dos projectos editoriais mais importantes da especialidade, que nasceram no Portugal pós-colonial.
Não tenho a certeza se foi o primeiro a surgir com o mesmo escopo e a mesma linha editorial independente, mas não tenho dúvidas em destacar que o “África Jornal” foi durante algum tempo na década de 80 uma das referências jornalísticas de leitura obrigatória, quando o assunto fosse o nosso Continente e muito particularmente o nosso país.
Não sei se alguém já fez alguma investigação sobre o papel do “África Jornal” durante o seu tempo de vida útil, parte da qual sob a batuta directa do João.
É um tema que eu teria, certamente, o maior gosto em abraçar ou pelo menos em sugerir o seu desenvolvimento pelos meios mais académicos relacionados com o ensino do jornalismo em Angola, mas não só, tendo em conta o pioneirismo e a abrangência do projecto pela chamada lusofonia africana.
Seria uma grande oportunidade para também homenagearmos o papel do João Van Dunem enquanto jornalista pan-africano que teve início em Lisboa com o “África Jornal” e se prolongou depois pela sua passagem pela secção portuguesa da BBC de Londres, durante mais de 20 anos, se as minhas contas estiverem certas.
Estamos a falar de uma trajectória que de produtor inicialmente, o catapultou depois para a chefia daquele programa radiofónico que também foi uma das grandes referências do jornalismo que se fazia na Europa especialmente orientado para os países africanos lusófonos.
A BBC para quem trabalhei como correspondente em Luanda por muito mais de 15 anos, desde 1989, entra na minha relação com o João Van Dunem como sendo a pedra mais importante do nosso sólido edifício comum construído desde que os nossos caminhos se cruzaram em Lisboa na década de 80.
Foi graças a ele e a influência que já tinha em Londres, que eu passei a fazer parte do projecto BBC, ainda no tempo em que a secção portuguesa era dirigida pelo bom do Manuel Santana.
Foi graças a este trabalho na BBC que eu consegui sobreviver com a maior dignidade em Angola depois de ter sido “expulso” da RNA.
Na verdade e depois de tudo quanto me aconteceu naquela empresa em 91/92 só me restava pedir a minha demissão e sair de cabeça bem erguida como, felizmente, sempre andei até hoje.
Caso contrário, caso não estivesse a trabalhar para a BBC, não sei como teria sustentado a minha família, mas sei que diante do ostracismo a que tinha sido votado na época, que não teria sido nada fácil sobreviver como jornalista independente/free-lancer.
Era o tempo que éramos tratados como mercenários e que as instituições oficiais agiam em conformidade.
Terei sido, entretanto, dos poucos angolanos que importou divisas para pagar as suas contas em Angola e financiar os estudos superiores dos seus filhos.
Por tudo isto e por muito mais, como é evidente, tenho uma eterna e impagável dívida de gratidão com o JVD.
Já depois do seu definitivo regresso a Angola terei sido uma das poucas pessoas que ele consultou quando foi convidado para dirigir e relançar o projecto Média Nova.
Conhecedor das suas capacidades de liderança e competências profissionais, aconselhei-o a aceitar sem mais delongas o convite, mas manifestei-lhe de imediato a minha indisponibilidade em acompanhá-lo nesse desafio.
Meio a sério, meio a brincar, comuniquei-lhe que não gostava muito de trabalhar para ou com generais.
Mesmo assim e alguns anos depois, o JVD sempre me convenceu a aceitar um contrato de colaboração com “O País” para quem semanalmente escrevia uma crónica, compromisso que depois da sua morte o seu sucessor rasgou na minha cara, alegando uma estranha incompatibilidade com as minhas novas funções enquanto membro da ERCA.
Dez anos depois da sua morte aqui estamos para lhe render esta merecida homenagem e nos associarmos à família que pretende recolher o máximo de informação sobre a sua trajectória profissional para depois a deixar disponível num site/internet onde ele poderá ser revisitado, sempre que as pessoas assim o desejarem.
Cá estarei para dar conta do andamento deste projecto memória, que poderá ajudar bastante os nossos jovens jornalistas a encontrarem no nosso passado recente referências profissionais motivadoras.
Continuamos a acreditar, apesar dos pesares, com todos os altos e baixos que se conhecem e com toda a concorrência desleal das fakenews, que o jornalismo continua a ser, no meio da nova selva mediática criada pela era digital, a melhor solução que a sociedade tem para se manter devidamente informada.
O JVD é, certamente, uma dessas referências.
Fragmentos de Infância - Georgina da Luz Van-Dúnem
João Brás Van-Dúnem era filho do meu tio Mateus, irmão de João Brás Van-Dúnem, meu Pai, do qual ele herdou o nome, sendo portanto seu xará.
Nós nascemos no mesmo ano, com uma diferença de meses.
Ele era de Outubro e eu de Dezembro.
Em determinada altura frequentamos a mesma escola.
A escola nº8 em Luanda.
Fomos da mesma sala, na 3ª classe.
Nessa época eu era muito tímida, introvertida, frágil.
Eu chamava-lhe de Joãozinho e ele a mim de Gina.
Na escola à hora do recreio era um perfeito rodopío dos colegas mais extrovertidos, alguns dos quais, depois de tanta energia despenderem, devoravam os seus lanches e estavam prontos a devorar os lanches dos colegas menos afoitos.
Aí entrava o João em cena!
Posicionava-se ao meu lado, em minha legítima defesa.
Sem precisar de recorrer à violência, marcava a sua presença como um bom cavalheiro.
Passaram-se tempos, e já em estado adulto, sempre que nos encontrássemos, havia motivo de riso.
Eu a saudá-lo como J. B. à semelhança de como alguns amigos se dirigiam ao meu Pai e ele a saudar-me como Gininha, lembrando-me os episódios em que ele intervinha como meu defensor.
João Vieira Van-Dúnem – JVD “The Special One” - Archer Mangueira
É justo recordar com saudade e nostalgia quem nos fez bem, quem nos tratou com amor e profunda amizade.
O JVD – João Vieira Van-Dúnem – era uma pessoa única, uma pessoa boa.
Este curto depoimento sobre o JVD pretende ser um tributo do amigo, do irmão e do companheiro, a um dos melhores jornalistas da nossa Angola independente.
O JVD era uma pessoa muito querida e admirada por todos os que o rodeavam.
Quero recordar o JVD com saudade e alegria. Por isso, quero apenas dizer palavras que possam fazer-nos reviver nas nossas memórias coisas boas que o João nos deixou, agora que passam dez anos sobre o seu desaparecimento precoce.
O JVD sabia ser com destreza e humildade o amigo do seu amigo, o mentor dos seus liderados, o mestre dos seus jovens instruendos, o irmão carinhoso, o conselheiro dos seus pares e companheiros. O homem dos afectos e das ideias. Quão criativo tu eras João?!...
Quantas vezes me recomendavas entrevistas aos diferentes órgãos de comunicação social, livros para ler, artigos para reflectir ou escrever ou textos para estudar?... Contigo aprendi tanto, tanto mesmo!
Tenho saudades!
Tenho saudades das nossas longas tertúlias, em Luanda, Lisboa ou Londres. Tenho saudades dos nossos debates aos fim-de-semana, dos chás no hall do hotel HCTA, nosso local de eleição, ou dos almoços regulares à sexta-feira.
Falávamos de tudo: política, economia, publicações, redes sociais, partidos políticos, sobre os desafios da juventude angolana, nossas famílias, nossos amores e desamores… verdadeiras tertúlias sem maldade.
Tenho saudades!
O JVD, além de um líder nato, era a excelência da boa educação. Para mim, a excelência da boa educação é tudo. O JVD era tudo!
Ele tinha a capacidade singular, só típica nos génios, de ver “longe” as coisas. Previa a o futuro como poucos. Era um homem profundo, realista, pragmático, crítico, humanista, muito sereno e criterioso.
Nunca o vi preocupado com cargos ou pessoas em particular. A sua preocupação era o país que o viu nascer e por quem tanto lutou. O país para o JVD estava acima de tudo e de todos.
O seu elevado conhecimento sobre o mundo dava-lhe a capacidade de pensar “fora da caixa”, com liberdade e imparcialidade, mas também com civismo e elevado sentido de bom senso. Um homem sempre comprometido com a causa. Talvez um dos que melhorou interpretou a máxima segundo a qual “não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que pureza e justiça existam dentro de nós”.
Partiste mas sentimos-te todos os dias nos nossos corações. Continuas vivo nas nossas memórias.
Descansa em Paz JVD! Que Deus te tenha sempre sempre no Seu infinito amor!
“Tocou-me principalmente a sua classe” - Carolina Cerqueira
Conheci pessoalmente o João Van-Dúnem em 2011, quando desempenhava a função de ministra da Comunicação Social.
Mas, já tinha ouvido falar muito dele, tanto pelo Reginaldo Silva, meu compadre, sou madrinha da sua filha mais velha, a Ana Regina, como pelas referências e muito elogiosas do João, por parte da minha mana Lola e do marido, o Isidro, que na altura habitualmente passavam alguns dias em Londres.
Fui admirando o João sem o conhecer, mas pelas referências às suas qualidades e valores, antecipava que era uma daquelas pessoas que depois de conhecermos, fica sempre na nossa memória, como se nunca tivesse sido um estranho.
Quando nos conhecemos no meu Gabinete, em Luanda, imediatamente iniciou-se uma relação baseada em ideias, referências e de sonhos, sobre o que esperávamos da comunicação social e do futuro da nossa Angola.
Tocou- me principalmente a sua classe, delicadeza e gentileza com que tratava as pessoas e como abordava os assuntos.
Sem ferir, nem contrariar, mas mostrando que poderia ser de outra forma a visão que talhávamos para algumas peças da vida.
Aprendi também com ele, a buscar na simplicidade das palavras a grandeza das pessoas e na grandeza dos gestos, a perenidade do fazer bem.
Acho que foi a pessoa mais misteriosa que conheci nos últimos anos, tinha sempre algo por dizer, algo para partilhar, mas que não compartilhava completamente porque a sua subtileza travava muitas vezes a exposição exagerada das ideias e de conversas que temia poderem ultrapassar o limite do correcto.
Conversávamos mais do que nos víamos, porque as milhas de distância só permitiam trocas de correspondência ou de telefonemas para saudar nas minhas passagens pela Europa.
Mas valeu a pena tê-lo conhecido embora fugazmente e num lance da vida ter perdido a possibilidade de um crescimento de uma amizade que se anunciava alicerçada por valores e anseios comuns para ajudarmos a melhorar o nosso país e sermos mais uns para os outros.
Chocada fiquei quando soube que a sua saúde deteriorou-se abruptamente e com gravidade.
Foi-se deste mundo como viveu, deduzo, com serenidade, a sorrir com a esperança de que no além haveria de encontrar a resposta para muitas dúvidas que o atormentavam e a com paz, aquela paz dos anjos que só as pessoas puras sabem apreciar.
A paz que buscamos no dia a dia, mas que nem todos nós ajudam a encontrar, a paz do dever cumprido, de propósito atingido e de vida bem vivida, vida realizada e perene, vida de Paz.
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JVD A Primeira vez que vi o Joao, vi seu acrónimo. Três letras pequena escritas num retângulo de papel em cima da mesa. Se tivesse que me lembrar, seria da sua voz. E depois do seu sentido de humor, suave e acutilante. E depois da sua bondade. E depois da sua firmeza na noticia e no facto, no seu sentido do rigor e da responsabilidade, da verdade. Mas talvez não me possa mesmo esquecer como falava da Mae e da família. Faz falta o Joao.
Alexandra Abreu Loureiro
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Eu lidei pouco com o João. Para mim ele era o irmão do Zé, meu colega de turma no Liceu Salvador Correia. Fui entrevistado por ele nos estúdios da BBC em Londres em 1994. Quando regressou a Angola cruzámo-nos algumas vezes e manifestámo-nos o desejo mútuo de uma longa conversa. Até que fui surpreendido com a notícia da sua partida. Impressionavam-me sobretudo a sua calma e doçura, para além da gentileza. Foi verdadeiramente uma perda para todos nós.
Fernando Pacheco
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Como pessoa João Van Dunem foi uma pessoa muito importante para mim não digo como chefe, mas sim como líder, era humano e respeitoso com os outros ele doava de si mesmo para poder ajudar os outros, não importava com que as pessoas e riam disser, mas sim com ser humano ele era carismático, respeitoso, amoro e acima de tudo muito carrinho com as pessoas Agradeço por todas as conquistas que alcança sei por todas as dificuldades que consegui supera Agradeço sempre por ter alguém como você por perto, um grande profissional e uma pessoa muito especial. Seu jeito atencioso com todos, sua simpatia e sua habilidade para lidar com qualquer situação é algo que me inspirou muito a todos meu muito obrigado família Van Dunem
Ana Domingos Canvula Lussassa
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Antes de conhecer o João VDunem pessoalmente tive a bonita surpresa de receber uma carta dele. Essa carta serviu para me mostrar a sua permanente preocupação com a familia, a quem devotava um afeto enorme e um instinto de proteção para com todos os seus parentes, para lá do normal. Assim, ao saber que era próxima de uma das irmãs, imediatamente entra em contacto comigo, escrevendo-me da longínqua Cuba de então, para saber quem eu era e para me pedir que cuidasse dessa amizade, porque as irmãs lhe eram muito especiais. Posteriormente venho conhecer o João pessoalmente e, apesar de não ter afinidades profissionais com ele, foi possível estabelecer uma amizade sólida e muito bonita. Isso porque o João era um cavalheiro, um gentleman, disposto a apostar na amizade pela amizade, homem de conversa espontânea, fácil, variada, multifacetada e profundamente culto. Isso fica patente no seu percurso profissional onde atinge altos patamares de excelência, com um apirado instinto de inovação, mantendo ao mesmo tempo e de forma muito natural, a sua simplicidade de sempre. O meu adeus ao João foi muito sentido e, ainda hoje, sinto que a sua curta passagem por este lado da vida deixou marcas profundas de humanidade, que perdurarão por muito, muito tempo. Bem hajas meu amigo porque tua existência fez muita diferença por onde estiveste e nas pessoas que tiveram o privilégio de te conhecer.
Carla Marques da Silva
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Eu e o João encontrámo-nos na Casa de Reclusão, onde ambos l estávamos sequestrados. Depois de cerca de 15 meses numa cela individual, com mais 11 pessoas, voltei a encontrar o João, que havia sido transportado para a CR, de Cuba, país que participou directamente na repressão sangrenta às forças democráticas e revolucionárias. Nos nossos encontros na cadeia abordávamos temas diversos. O João falava muito baixo, mas mesmo por acordo não formal não fazíamos perguntas, ainda que não tivéssemos escutado parte da conversa. Anos mais tarde, já depois de arredados das grilhetas da Disa, encontrámo-nos em Lisboa e eu confessei-lhe que algumas das conversas haviam sido mal entendidas por ele falar demasiado baixo. Qual o meu espanto quando João se desatou a rir... perguntei então: porque te ris? Ainda de sorriso nos lábios ele respondeu-me: eu também não te ouvia a ti. Nesse dia ele encontrava-se com o sobrinho, o João Ernesto, e acabámos por jantar em casa de seus pais. Foi um encontro em liberdade, a partir do qual se seguiram tantos outros, em Portugal e em Angola, o último dos quais em casa do Kamu. Um até sempre, João!
Joaquim
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Histórias temos muitas. Desde a nossa meninice no Marçal em casa do nosso avô José Vieira Dias.
Gaguy Vieira Dias
“Corria veloz a segunda metade da conturbada década de 80” - Sulemane Cabir
Corria veloz a segunda metade da conturbada década de 80.
Angola dilacerada no seu mais nobre tecido humano, Moçambique, meu país, de igual sorte ... guerra entre irmãos.
Londres, sentado na redacção, escrevia o Jornal da Tarde da BBC, em língua Portuguesa, para de seguida apresentar em directo.
É me apresentado um novo colega chegado a Londres, de nome João Van Dunen. Convidei-o a comigo ir ao estúdio para assistir a transmissão.
Era noite de frio cortante e chuvisco intermitente quando o convidei de novo, após a transmissão, a jantar num simples restaurante próximo da BBC World Services.
Aprendi sobre a vereda da vida do João, do seu percurso, do 27 de Maio, de como fora extraído de Cuba sem nada saber do que então acontecia em Luanda, em 77, e embar ado num navio de regresso a Angola para uma prisão.
Falou me da sua família, do Che, filho do seu irmão, feito perecer nos fatídicos acontecimentos desse Maio, das agruras e mágoas, e o imenso amor da sua Angola.
Falei lhe do caminho que percorri, do meu país, da família, do meu Moçambique.
Mais do que amigos, tornámo-nos quais verdadeiros irnãos. Raro era o dia que profissional ou socialmente não estávamos juntos.
Percebendo sempre, ao longo dos anos, por vezes a profunda abstracção do João, como que vigiando o futuro e prescrutando o amanhã, envolto no profundo amor à sua família, e o que esta e ele vivenciaram.
Entre as mágoas e muitas alegrias comuns, de um dia ser presente o regresso às nossas famílias e pátrias, o João, no seu trato fino e discreto, exumava de alegria com a presença do Che, chegado a Londres para com ele viver e estudar economia.
Maior alegria foi o nascimento da sua filha, a Antónia, Toninha como carinhosamente o João a chamava.
Do joão Van Dunen, alguém um dia poderia escrever um livro, porque desse livro, acredito, muito se enriqueceriam um pouco mais, sobre episódios e passagens marcantes da sua família e Angola.
Quando decido preparar me para deixar Londres de regresso a Moçambique, o João confidenciou me que num futuro não distante, regressaria a Angola também, depois da Toninha estar crescida.
Tarde soube que o João nos deixara e triste guardo ainda o não podido e
“Tenho saudades da tua gargalhada” - Bruno Marques
Tio João, sinto que, como outros homens importantes da minha vida, ensinaste-me como tratar as mulheres porque sempre foste um gentleman com a minha mãe. Ensinaste-me pelo exemplo o que é ser verdadeiramente educado e doce. Sempre que me lembro de ti, lembro-me com carinho, amor e saudade, também foste e vais ser sempre meu pai, um pai que a vida me deu e sou muito grato por tudo.
Tenho saudades da tua gargalhada que ainda consigo ouvir nos meus pensamentos porque ficou guardada no meu coração assim como todas as memórias.
“Meu querido tio e amigo João” - Ataúlfo Carlos
Meu querido tio e amigo João, 10 anos passados, desde que partiste para outra dimensão para além desta vida das coisas tangíveis e intangíveis… Para onde quer que tenhas ido, onde quer que estejas e embora seja impossível ver te e tocar te não será possível esquecer-te pois tu eras e ainda és inesquecível no meu coração e na minha memória poderia deixar inúmeros testemunhos e contar mais do que uma só história entre Tu e eu… com a tua partida a história recorrente é uma marcada de saudades as vezes uma lágrima ou várias nos meus olhos mas logo mergulho em outras circunstâncias de nós os dois e aí revivo como posso lembranças tuas meu querido Tio! Deixas saudades nos corações de todos os teus familiares e amigos. É certamente o meu caso, que vivo com imensas saudades do teu jeito sereno e carinhoso “de ser” e modo com que me tratavas, desde que conhecemo-nos, ali na rua Rodrigo da Fonseca em Lisboa, até aos momentos em Londres. depois em Luanda e muitos outros… como a última vez que cruzei me contigo por mero acaso ou não andávamos os dois pela zona de São Sebastião da Pedreira e eu reconheci te e logo gritei gritei por ti e foi o agrado mútuo de sempre quando nos cruzamos dessa última vez que não sabia que seria a última pois não te teia deixado seguir o teu caminho sem te declarar o meu amor e o respeito que nutro por ti que é resultado directo de quem tu eras um tio amoroso e carinhoso… Aprendi desde muito cedo a praticar um amor natural pelos meus familiares, fruto da educação e criação que recebi dos meus pais em particular do meu Pai, o teu primo “Nelito” que sempre fez questão de ensinar-me os princípios valores da união e da fraternidade entre a família, mas no teu caso meu tio há uma grande distinção e um mérito que diz respeito à tua forma estares comigo… Para além de tio, sempre te demonstraste meu amigo é precisamente por isso que ainda te guardo comigo. Desde o nosso primeiro encontro, e de outros que a vida e o destino concedeu-nos, foram inúmeras as ocasiões em que nós tivemos juntos até o dia que recebi a triste notícia da tua saída do mundo dos vivos sempre me deu muito prazer estarmos juntos, nesse dia que recebi a triste notícia da tua morte tinha feito um telefonema ao meu primo Ché para dar-lhe os parabéns como ele também sou nativo de fevereiro então tento sempre lembrar do aniversário dele, estava muito animado quando liguei mas logo ele disse-me que já não estavas cá connosco, pelo que de imediato numa negação involuntária recusei-me a aceitar facilmente esse desfecho e não sei se posso dizer que já aceitei, passados tantos anos sei que recusarei aceitar levemente a tua partida, sei que enquanto viver mesmo que seja com lágrimas nos meus olhos, mesmo que me aperte esse coração onde te guardo e no qual entraste, por ocasiões simples como fazeres uma linda “surprise-party” conjuntamente com a minha mãe, para celebrar um dos meus aniversários, em Londres onde eu estava como estudante e tu ainda trabalhavas na BBC; agarro me a tantas outras memórias e em outras ocasiões tão ou mais especiais em que tive o privilégio e o gosto de puder contar contigo e partilhar algum tempo e espaço das nossas vidas! Recordo-me que falavas muito pouco mas dizias muito, quando falavas era sempre muito suave o teu tom de voz mas com muita firmeza e com um conhecimento profundo e refinado de quase todas as coisas e todos temas e sempre procurando deixar ensinamentos e conselhos bons. Com certeza aprendi muito contigo meu querido Tio João, tanto assim que mesmo depois de uma década ainda vives em mim, nas minhas lembranças e na minha memória onde te perpetuarás até o dia que também eu já não estiver aqui neste mundo dos vivos e partir para outra dimensão que não esta que não me permite tocar-te como gostaria e como fazia quando estavas em vida e encontrávamo-nos, apesar da dor e das lágrimas que as saudades impõe eu busco algum consolo no tanto que deixaste-me de lembranças e o marco da tua vida por onde passaste e os teus feitos, e onde a tua vida cruzava com a minha muitíssimas memórias e todas elas muito lindas e agradáveis pelo que esperançosamente, espero reencontrar-te um dia, enquanto isso é com todo o amor e carinho que tínhamos um pelo outro que eu vou viver o resto dos meus dias sem ti de modo tangível mas sempre contigo de modo intangível pois nós os humanos temos essa faculdade de enquanto vivos podemos ir ao imaginável e reviver ou até viver as coisas, fico por aqui no mundo que deixaste-me em prantos chorando por saber que não te iria voltar a ver mas sigo contigo em mim dentro do meu coração e aí onde quer que estejas quero reiterar e deixar-te saber, que o teu sobrinho Ataülfo Carlos ama-te muito e continuarei a amar-te para sempre… Como, preferia nunca ter tido de me despedir de ti, querido Tio desejo que estejas nas mãos de Deus no teu eterno descanso e que a terra te seja leve! Um beijinho grande do teu sobrinho “Tufinho”! |
“Era um gentleman” - Epifania Sequeira
Eu trabalhei com o Dr. JVD no grupo Media Nova, fui secretaria administrativa e trabalhei com o Dr JVD até o seu último dia na MNova, lembro-me como se fosse hj, Dr JVD era um gentleman, de uma alma nobre, de muito bom trato e, educação nunca vista, um homem de muita classe, poderia ficar aqui a escrever tantas histórias boas de recordar.
Vou contar apenas a última lembrança do Dr JVD na MNova.
este último dia de trabalho já se notava a debilidade do Dr. JVD, a respiração, olhar e a postura era visível, ele se despede e diz, Epifânia fique bem, eu respondi, Dr. JVD uma boa viagem, eu acompanho até lá abaixo, nisso descemos, qdo ele ia a entrar p o carro, debaixo daquele calor infernar de Luanda, o segurança abordou-o perguntando sobre um CV q tinha entregue da irmã e nunca foi respondido, o Dr. JVD mesmo débil, debaixo daquele sol infernal, teve o cuidado de ficar em pé “mal conseguia” para responder com toda calma e educação o segurança, olhou-o e disse, Epifânia ajuda o senhor por favor, eu disse ao senhor q iria falar com ele, pedi ao Dr. JVD p ir embora desejando uma boa viagem, mesmo não estando bem de saúde, teve um tempinho p falar com o segurança e, eu nunca pensei q seria uma viagem para nunca.
Eu posso dizer, q qdo dou exemplo de um homem de caracter, aos mesmo olhos, falo sempre do Dr JVD, pena que partiu cedo, pois dizem q os anjos são os primeiros a irem, acredito q sim.
Quero muito mesmo a distância, dizer a sua única filha “Antônia” q se sinta abraçada por muitos.
"Do mestre João, não me esqueço da doca : “ tenham cuidado ao arriscarem demais nas coberturas, porque missões impossíveis são para Comandos”" - António de Sousa
Ao João Vandunem “ o nosso gentleman “ , também devo o pouco que sei e aprendi convosco sobre jornalismo .
Depois da formação “ Basic Journalism 1 da BBC “, em dois módulos , foi ele que decidiu escolher-me como o correspondente da BBC World Service para Luanda, durante quase 4 anos .
Foi ele quem me ensinou a fazer “ features “ sobretudo os de “human interest”, a introduzir os sons ambientes ( reais captados in situ ) nas reportagens , a “contar histórias “ na redacção de textos para a linguagem de rádio .
O mestre João Vandunem e o Filipe Correia de Sá ( creio que está em Luanda ) indicaram-me ,a partir de Londres , como enviado especial a Joanesburgo , despachado de Luanda , para cobrir pela BBC a Cimeira da Terra de 2002, enquanto aguardava pela chegada do “reforço “, António (?) Henriques , que se juntou a mim 7 dias depois . Aumentei o leque de fontes, incluindo a ex-comandante da Polícia ( uma sul-africana de origem portuguesa) . Eu já “navegava bem” naquele espaço fruto da minha formação em jornalismo na Rhodes University, em Port Elizabeth, mas os contactos que a BBC colocou à minha disposição deram-me muitos “furos jornalísticos”, entre os quais a entrevista rápida a Collin Powel ( ex secretário de Estado dos EUA), num dos intervalos da Cimeira.
O “nosso contacto “ e lobby da BBC colocou-me numa “ posição estratégica” para “apanhar “ o ex SE dos EUA : à porta de entrada da casa de banho VIP da majestosa Sandton Convention Centre.
O delegado da Lusa em Joanesburgo , António Mateus e o Simiâo Punguana ( de Moçambique ) eram outros companheiros cujos links foram criados graças ao impulso do JVD.
Do mestre João, não me esqueço da doca : “ tenham cuidado ao arriscarem demais nas coberturas, porque missões impossíveis são para Comandos”.
"Fazes-nos imensa falta João” - Nelson Maria do Nascimento
Quem foi João Van Dunem para mim: Conheci o João nos escritórios do serviço em português da BBC em Londres. Fomos apresentados por alguém que trabalhava para ele nesse serviço da BBC e, que eu já conhecia de Angola (dos tempos da Radio Nacional de Angola, no inicio da década de 80). Quando essa pessoa soube que o assunto "27 de Maio de 1977" e o persistente e ensurdecedor silêncio sobre o paradeiro do meu pai eram algo que intermitentemente me tiravam o sono (ao ponto de eu ter nessa altura quebrado esse silêncio ao publicar um artigo sobre o 27 de Maio no então Semanário Angolense do Graça Campos), sabendo ele que o João Van Dunem tinha no passado também sido negativamente impactado por esse mesmo processo, decidiu falar-lhe sobre mim. Acto continuo, o João ao tomar conhecimento de quem eu era filho (ainda antes de nos encontrarmos) descobre que afinal conheceu muito bem o meu pai, pois tinha sido pessoa por quem ele nutriu grande simpatia e estima, graças ao seu irmão mais velho, o Zé Van Dunem, que era quem estava directamente ligado ao meu pai. O João manda transmitir-me que teria sim imenso prazer em conhecer o filho do Quim Maria (apesar da sua agenda apertada e da minha extremamente curta estadia em Londres) e com base nesse pano de fundo encontramo-nos pela primeira vez no seu escritório. Foi um encontro muito breve mas bastante intenso, apesar do baixo volume e do tom incrivelmente sereno da sua voz. O João - que pouco antes desse nosso primeiro encontro eu nem sequer sabia que existia, num instante, transformou-se numa ponte rara e privilegiada com a memória do meu pai, de quem ele só tinha coisas boas para contar, tanto no plano humano, como no político e intelectual. Nesse encontro, o João além de me ter falado da (afinal!) grande proximidade dele e do irmão com o meu pai, fez questão de me revelar a existência do seu sobrinho, que pelo que pude sentir, era claramente a sua grande fonte de orgulho - o CHE ! Outro grande choque (!) pois eu até aquela altura tinha passado completamente ao lado desse facto - de um filho da Sita e do Zé ter, apesar daquelas vicissitudes todas, sobrevivido e virado um adulto tranquilo e culto, além de profissional e académico de alta craveira, digno herdeiro do legado deixado pelos seus emblemáticos pais, Sita Valles e Zé Van Dunem, de quem sempre me senti (óbvia e espontaneamente) muito próximo do ponto de vista humano e intelectual – ainda que de modo anacrónico e virtual. Dentro dos limites do pouco tempo que nos restava (e apesar da relativa pouca privacidade - por nos encontrarmos no seu local de trabalho), o João conta-me com o orgulho próprio de um pai, algumas das “peripécias” profissionais do Che, nomeadamente da sua passagem em serviço por alguns países e instala desde aquele instante no meu cérebro, uma automática e compulsiva proximidade e afinidade com o Che, mesmo sem nos conhecermos ainda. E ainda me lembro que ele remata: "vais gostar de o conhecer..." Avançando rapidamente a fita, só alguns anos mais tarde pude finalmente ir a Angola arranjar trabalho para lá tentar novamente fixar-me com a minha família. Uma vez em Angola, só me recordo de ter voltado a sentar para conversar com o João, duas vezes: uma no escritório dele na Media Nova (tendo simpaticamente promovido uma visita guiada à empresa, e apresentado alguns dos seus mais próximos colaboradores que lá se encontravam) e, outra na recepção do hotel HCTA, ambos em Talatona. Houve uma outra ocasião em que nos cumprimentamos brevemente na rua da antiga DHL no bairro Maculusso, em que o João me apresentou assim "à la va vite" uma das suas irmãs que (segundo me recordo) tinha acabado de chegar de Portugal. Impossível lembrar-me de qual das irmãs se tratou, pois isso foi tudo muito rápido e há vários anos. Com a partida precoce do João, desvaneceu-se para sempre a idéia de podermos estar juntos para que ele me pudesse apresentar o Che. Esse tão esperado (por mim) encontro com o Che, infelizmente só veio a acontecer em presença espiritual do João - e muito furtivamente, dadas as circunstâncias, por ter sido aquando da missa do sétimo dia (ou do trigésimo, já não me recordo bem) em honra do falecimento do João, ali na igreja de São Joaquim, no bairro da Praia do Bispo. Voltando a avançar o filme da vida, exceptuando um prévio encontro na UCAN por ocasião de uma palestra sobre o 27 de Maio de 1977 (quando ainda éramos estranhos um para o outro), o Che e eu pudemos finalmente honrar a memória do João, encontrando-nos em carne e osso, desta vez em companhia das nossas respectivas famílias, justamente num outro evento organizado em Lisboa pela associação M27 - que congrega os Orfãos do 27 de Maio, em homenagem à memória dos "desaparecidos" do 27 de Maio de 1977 em Angola. Resumindo e concluindo: o João, lá do firmamento para onde ascendeu, não "imagina" sequer o impacto positivo que teve na minha vida. Apesar de nos termos conhecido tarde e eu já bem mais velho, ele conseguiu o milagre de alimentar retroactivamente e com juros, alimentar, acarinhar e revigorar o imaginário do pré adolescente de 12 anos que eu era quando o meu pai "desapareceu", ao contar-me coisas que mais ninguém me tinha até então contado sobre ele, sobre a ligação que existiu entre eles, e sobre quem o meu pai representava, tanto para ele como para o grande Zé Van Dunem. Era assim o João. Destilava uma profunda (quase mística) serenidade e uma sabedoria de pessoa centenária. Tê-lo conhecido fez-me muito bem e ajudou-me a descobrir um pouco mais sobre o meu próprio pai, bem como quem constituiu parte importante do seu entourage. Fazes-nos imensa falta, João. Felizmente, o teu legado tem um impacto e uma durabilidade à altura da dimensão moral e até espiritual da tua existência, independentemente da brevidade da tua vida sobre a terra, sob o envelope físico do corpo humano. Nelson Maria do Nascimento Paris, 13 de Fevereiro de 2023
“Um homem de princípios e de consensos” - João Maria Moreira de Sousa
Não é fácil voltarmos ao passado para nos debruçarmos sobre a vida de pessoas que nos foram e são muito queridas, cujos rostos, sorrisos e vozes permanecem para todo sempre registados na nossa memória. E quando fazemos essa retrospectiva de vivências com essas boas pessoas que já não se encontram entre nós, de um modo geral, fazemo-lo por merecimento, para as homenagear postumamente. É o que faço hoje e agora, para o parente amigo João Van-Dúnem, que nos deixou prematuramente, quando ele tinha guardados na cabeça, planos que se resumiam em dar o melhor de si para a sua terra, a nossa terra Angola. O João Van-Dúnem, sim, com a experiência e os conhecimentos que acumulou ao longo da sua carreira profissional, abordou comigo, com a maior naturalidade e franqueza, o seu desejo de contribuir e ver mudar o paradigma do jornalismo que se praticava no nosso país. Mas, sobre esse tema, não deu muitos palpites, eu também não fiz muito para puxar por ele, mas deu para eu perceber o que ele dizia a respeito. Resumindo, João Van-Dúnem foi um jornalista com qualidades de excelência, um profissional altamente capacitado, com projecção internacional e que se distinguiu nos cargos de relevantes responsabilidades que exerceu ao longo de anos, além fronteiras, mormente, no Reino Unido e em Portugal. Eu estou a referir-me a alguém a quem eu considerava um visionário, um de entre outros profissionais angolanos que deram corpo ao projecto de criação da TV ZIMBO, de que ele João Van-Dúnem foi o primeiro Presidente do Conselho de Administração, um homem de princípios e de consensos, moderado e apaziguador. Mas, permito-me dizer, ao contrário de muitos colegas seus que eu também conheci e conheço, o João não se fazia o protagonista nas conversas em que participava, ele era reservado, de poucas falas, porém, muito bom observador. Meu ponto de vista. A última vez que eu e o João Van-Dúnem estivemos juntos, não me recordo da data, foi no aeroporto internacional 4 de Fevereiro, em Luanda. Ele apareceu na Sala de Protocolo onde já se encontravam, além de mim, outras pessoas para viajar, de quem o João foi despedir-se. Para mim foi um encontro surpresa, que nos deixou satisfeitos pela oportunidade de um breve convívio, descontraídos. Infelizmente, naquela altura o João já se debatia com o mal que silenciosa e traiçoeiramente lhe roubaria a vida. Ainda assim, ele apresentava-se sereno, descontraído, e como já fiz constar, muito comedido nas suas palavras e sorridente. Como o tempo passa...! Embora não pareça, já se passaram (10) dez anos desde que aquele nosso Gigante partiu para a Eternidade, tendo deixado para trás os projectos que ele tanto queria ver desenvolvidos para o bem de todos angolanos. Resta-me, pois, desejar Glória e Paz para o João Van-Dúnem, uma estrela cintilante que do Céu nos ilumina. Luanda, aos 16 de Fevereiro de 2023
"Disse-me que eu tinha o mesmo nome de sua mãe” - Antónia de Fátima Augusto Correia
Conheci o Dr. João Van - Dúnem em 2008, quando entrei para o grupo Medianova como assistente administrativa do Semanário Económico, alocado na Imprescrita(participada). A nossa convivência foi mais expressiva quando viemos todos trabalhar no mesmo edifício, aqui no condomínio de prédios Alpha, em Talatona. Das recordações que tenho dele, a primeira que me marcou foi quando uma vez ao entrar no seu gabinete, ele chamou - me pelo nome (saberia eu que ele o soubesse), disse- me que eu tinha o mesmo nome de sua mãe por isso gostava muito deste nome. Fiquei lisonjeada naturalmente... Uma das características deste grande senhor era que, sabia o nome de todos os colaboradores, e quando cruzava - se com qualquer um de nós, fazia questão de nos saudar pelo nome. A outra foi que uma vez apresentei- lhe um orçamento para ser aprovado, pois haveríamos de participar pela primeira vez na FILDA e teríamos uma stand Medianova. Eu sem experiência neste tipo de eventos e a correr contra o tempo,fiz um orçamento baixíssimo. Ele aprovou. Dois dias depois apercebi - me que o dinheiro não chegava, então muito envergonhada tive de voltar a sua sala, para solicitar mais dinheiro. Ele com um sorriso no rosto disse - me cordialmente,pois ele era uma pessoa muito cordial: - Antónia, eu sabia que o dinheiro que pediste não chegava. Só queria ver até onde conseguias gerir tudo. Esteja a vontade e não te sintas constrangida com isso. Vá falar o Dr. Paulo Barros ( Director Financeiro) e ele que te dê mais dinheiro. Para dizer nestes dois episódios aqui narrados que o Dr. João Van - Dúnem foi um dos homens mais íntegros que conheci na vida. Sua educação, simplicidade,humildade, cordialidade de entre outras características, fizeram parte de um ser que conviveu connosco, durante quase 6 anos neste grupo e certamente estará sempre presente em nós. Infelizmente o perdemos mas temos um "lugarzinho" dentro de nós, onde ele faz morada. "Uma saudade, uma pedra bruta e quente, e eu a espera desta era em que iremos nos encontrar Conto os dias, as alegrias,conto a paz, o olhar...o ar" Dr. João hoje e sempre. Eterno descanso Antónia Augusto Correia